A VIDA. Miguel Torga (1907-1995)

 

 

Cavaban como possessos

Semeavam como loucos:

Mas à noite eram regressos

Com frutos magros e poucos.

 

Furavam serras inteiras

Atrás duma gota de água:

Cegas, teimosas, toupeiras,

Encontravam pedra e mágoa.

 

Faziam vinho do pranto

E pão da melancolia;

E cobriam-se do manto

Que a neve branca tecia.

 

 

Cavaban como posesos

Y sembraban como locos:

Mas, de noche, eran regresos

Con frutos magros y pocos.

 

Por la sed espoleados,

Altas sierras horadaban:

Ciegos topos obstinados,

Piedra y dolor encontraban.

 

Hacían vino del llanto,

Pan de la melancolía;

Y les arropaba el manto

Que la nevada tejía.

 

Traductor: Ángel Crespo (1926-1995)

 

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