Posts matching “Fernando Pessoa”.

«A FÉ É O INSTINTO DA AÇÃO». FERNANDO PESSOA, AUTOR DEL AUTOR: FRAGMENTO 2 DE «LIVRO DO DESASSOSSEGO (COMPOSTO POR BERNARDO SOARES, AJUDANTE DE GUARDA-LIVROS NA CIDADE DE LISBOA)». Con fotografías de Lauro Gandul Verdún

 
 
japonesa (lisboa 2008-LGV)

Figura de japonesa
(Foto: LGV Lisboa 2008)

 
 

Pertenço a uma geração que herdou a descrença na fé cristã e que criou em si uma descrença em todas as outras fés. Os nossos pais tinham ainda o impulso credor, que transferiam do cristianismo para outras formas da ilusão. Uns eram entusiastas da igualdade social, outros eram enamorados só da beleza, outros tinham a fé na ciência e nos seus proveitos, e havia outros que, mais cristãos ainda, iam buscar a Orientes e Occidentes outras formas religiosas, com que entretivessem a consciência, sim elas oca, de meramente viver.

   Tudo isso nós perdemos, de todas essas consolações nascemos órfãos. Cada civilização segue a linha íntima de uma religião que a representa: passar para outras religiões é perder essa, e por fim perdê-las a todas.

   Nós perdemos essa, e às outras também.

   Ficámos, pois, cada um entregue a si próprio, na desolação de se sentir viver. Um barco parece ser um objeto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a um porto. Nós encontrámo-nos navegando, sem a ideia do porto a que nos deveríamos acolher. Reproduzimos assim, na espécie dolorosa, a fórmula aventureira dos argonautas: navegar é preciso, viver não é preciso.

   Sem ilusões, vivemos apenas do sonho, que é a ilusão de quem não pode ter ilusões. Vivendo de nós próprios, diminuímo-nos, porque o homem completo é o homem que se ignora. Sem fé, não temos esperança, e sem esperança não temos propriamente vida. Não tendo uma ideia do futuro, também não temos uma ideia de hoje, porque o hoje, para o homem de ação, não é senão um prólogo do futuro. A energia para lutar nasceu morta connosco, porque nós nascemos sem o entusiasmo da luta.

   Uns de nós estagnaram na conquista alvar do quotidiano, reles e baixos buscando o pão de cada dia, e querendo obtê-lo sem o trabalho sentido, sem a consciência do esforço, sem a nobreza do conseguimento.

   Outros, de melhor estirpe, abstivemo-nos da coisa pública, nada querendo e nada desejando, e tentando levar até ao calvário do esquecimento a cruz de simplemente existirmos. Impossível esforço, em quem não tem, como o portador da Cruz, uma origem divina na consciência.

   Outros entregaram-se, atarefados por fora da alma, ao culto da confusão e do ruído, julgando viver quando se ouviam, crendo amar quando chocavam contra as exterioridades do amor. Viver doía-nos, porque sabíamos que estávamos vivos; morrer não nos aterrava porque tínhamos perdido a noção normal da morte.

   Mas outros, Raça do Fim, limite espiritual da Hora Morta, nem tiveram a coragem da negação e do asilo em si próprios. O que viveram foi em negação, em descontentamento e em desconsolo. Mas vivemo-lo de dentro, sem gestos, fechados sempre, pelo menos no género de vida, entre as quatro paredes do quarto e os quatro muros de não saber agir.

 

[Fernando Pessoa (1888-1935).
Fragmento de Livro do desassossego (composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa).
Edición de Richard Zenith.
Editorial Assírio & Alvim.
Lisboa 2011.
Pág. 259-260]

 
 
7 viejo astillero seixal

Abandonados astilleros de barcos de río
(Seixal 2008)
[Foto: LGV]

 
 

Pertenezco a una generación que heredó el descreimiento en la fe cristiana y que creó en sí un descreimiento en todas las otras fes. Nuestros padres tenían todavía el impulso creador, que transferían del cristianismo para otras formas de ilusión. Unos eran entusiastas de la igualdad social, otros estaban enamorados sólo de la belleza, otros tenían la fe en la ciencia y en sus beneficios, y había otros que, más cristianos todavía, se iban a buscar a Orientes y Occidentes otras formas religiosas, con las que entretuviesen a la consciencia, sin ellas hueca, de meramente vivir.

   Todo eso perdemos, de todas esas consolaciones nacemos huérfanos. Cada civilización sigue la línea íntima de una religión que la representa: pasar para otras religiones es perder aquélla, y al final perderlas todas.

   Perdemos aquélla, y las otras también.

  Quedamos, pues, cada uno entregado a sí mismo, en la desolación de sentirse vivir. Un barco parece ser un objeto cuyo fin es navegar; pero su fin no es navegar, sino llegar a un puerto. Nos encontramos navegando, sin la idea del puerto que nos debería acoger. Reproducimos así, en la especie dolorosa, la fórmula aventurera de los argonautas: navegar es preciso, vivir no es preciso.

   Sin ilusiones, vivimos apenas del sueño, que es la ilusión de quien no puede tener ilusiones. Viviendo de nosotros mismos, nos disminuimos, porque el hombre completo es el hombre que se ignora. Sin fe, no tenemos esperanza, y sin esperanza no tenemos propiamente vida. No teniendo una idea del futuro, tampoco tenemos una idea del hoy, porque el hoy, para el hombre de acción, no es sino un prólogo del futuro. La energía para luchar nació muerta con nosotros, porque nosotros nacemos sin el entusiasmo de la lucha.

   Algunos de nosotros se quedarán en la conquista ingenua de lo cotidiano, insignificantes y groseros buscando el pan de cada día, y queriendo obtenerlo sin el trabajo sentido, sin la consciencia del esfuerzo, sin la nobleza de la ganancia.

   Otros, de mejor estirpe, absteniéndonos de la cosa pública, nada queriendo y nada deseando, e intentando llevar hasta el calvario del olvido la cruz de simplemente existirnos. Imposible esfuerzo, en quien no tiene, como el portador de la Cruz, un origen divino en la consciencia.

   Otros se entregarán, atareados por fuera del alma, al culto de la confusión y del ruido, juzgando vivir cuando se escuchaban, creyendo amar cuando chocaban contra las exterioridades del amor. Vivir nos dolía, porque sabíamos que estábamos vivos; morir no nos aterraba porque habíamos perdido la noción normal de la muerte.

   Pero otros, Raza del Fin, límite espiritual de la Hora Muerta, ni siquiera tuvieron el coraje de la negación y del asilo en sí mismos. Lo que vivieron fue en negación, en descontento y en desconsuelo. Mas lo vivimos desde dentro, sin gestos, cerrados siempre, por lo menos en el género de vida, entre las cuatro paredes del cuarto y los cuatro muros de no saber actuar.

[Traducción al español por Lauro Gandul Verdún
para «CARMINA» Blog Literario.
Alcalá de Guadaira
2017]

 
 
Coimbra 2009 (foto LGV)

Foto de retratos
[Foto: LGV Portugal 2009]
 
 
___________________________________
 
FERNANDO PESSOA EN «CARMINA»:
 

FERNANDO PESSOA, AUTOR DEL AUTOR: FRAGMENTO 1 DE «LIVRO DO DESASSOSSEGO (COMPOSTO POR BERNARDO SOARES, AJUDANTE DE GUARDA-LIVROS NA CIDADE DE LISBOA)». Con fotos de Lorenzo del Término

DIÁLOGO IMAGINÁRIO. «Memórias de um encontro no Chiado: Fernando Pessoa n’ “A Brasileira”, com Vicente Núñez, Lagoa Henriques e Carlos Amado». Por Luis Jorge Gonçalves, Lauro Gandul Verdún e Olga Mª Duarte Piña (Lisboa, 1998-2011)

FERNANDO PESSOA, LAGOA HENRIQUES, CARLOS AMADO Y VICENTE NÚÑEZ CONVERSAN EN LISBOA. Fotografía de Lauro Gandul Verdún (7 de julio de 1998)

AUTOPSICOGRAFÍA. Un poema de Fernando Pessoa (1888-1935) con dibujo de Xopi

LA ESCRITURA O LA VIDA: PESSOA Y KAFKA «IN LOVE». Por Enrique Martín Ferrera (enero 2013)

PESSOA: EL ARCA DE LOS INÉDITOS. Por Enrique Martín Ferrera (octubre de 2012)

VICENTE NÚÑEZ (y amigos delante de la tumba de F. Pessoa en «Os Jeronimos»)

 LISBOA COM SUAS CASAS DE VÁRIAS CORES. Álvaro de Campos (11-5-1934)

 
 

FERNANDO PESSOA, AUTOR DEL AUTOR: FRAGMENTO 1 DE «LIVRO DO DESASSOSSEGO (COMPOSTO POR BERNARDO SOARES, AJUDANTE DE GUARDA-LIVROS NA CIDADE DE LISBOA)». Con fotos de Lorenzo del Término

 

LISBOA (2008) 1

Alrededores de Lisboa
2008

 

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido —sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significado mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivesçência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

            Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.

 

[Fernando Pessoa (1888-1935).
Fragmento de Livro do desassossego (composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa).
Edición de Richard Zenith.
Editorial Assírio & Alvim.
Lisboa 2011.
Pág. 39]

 

LISBOA 2008

Cabo del Espichel
2008

 

Nací en un tiempo en el que la mayoría de los jóvenes habían perdido la creencia en Dios, por la misma razón que sus mayores la habían tenido —sin saber por qué—. Y entonces, porque el espíritu humano tiende naturalmente a criticar porque siente, y no porque piensa, la mayoría de esos jóvenes escogió la Humanidad como sucedáneo de Dios. Pertenezco, no obstante, a aquella especie de hombres que están siempre en el margen de aquello a lo que pertenecen, no ven sólo la multitud de la que son, sino también los grandes espacios que hay al lado. Por eso no abandoné a Dios tan ampliamente como ellos, ni acepté nunca la Humanidad. Consideré que Dios, siendo improbable, podría ser, pudiendo pues ser adorado; pero que la Humanidad, siendo una mera idea biológica, y no significando más que la especie animal humana, no era más digna de adoración de la que cualquier otra especie animal. Este culto de la Humanidad, con sus ritos de Libertad e Igualdad, me pareció siempre una reviviscencia de los cultos antiguos, en los que los animales eran como dioses, o los dioses tenían cabezas de animales.

            Así, no sabiendo creer en Dios, y no pudiendo creer en una suma de animales, quedé, como otros de la orla de las gentes, en aquella distancia de todo lo que, comúnmente, se llama Decadencia. La Decadencia es la pérdida total de la inconsciencia; porque la inconsciencia es el fundamento de la vida. El corazón, si pudiese pensar, pararía.

 

[Traducción al español por Lauro Gandul Verdún
para «CARMINA» Blog Literario.
Alcalá de Guadaira

2017]

 

LISBOA (2008)

 

DIÁLOGO IMAGINÁRIO. «Memórias de um encontro no Chiado: Fernando Pessoa n’ “A Brasileira”, com Vicente Núñez, Lagoa Henriques e Carlos Amado». Por Luis Jorge Gonçalves, Lauro Gandul Verdún e Olga Mª Duarte Piña (Lisboa, 1998-2011)

VICENTE NÚÑEZ: «Lo que siempre se ha perpetuado es la carne como bronce.»«¡Dime tú lo que te quería decir!»

FERNANDO PESSOA: «Põe-me as mãos nos hombros…/ Beija-me na fronte…/ Minha vida é escombros,/ A minha alma insonte.// Eu não sei porqué,/ Meu desde onde venho,/ Sou o ser que vê,/ E vê tudo estranho.// Põe a tua mão/ Sobre o meu cabelo…/ Tudo é ilusão./ Sonhar é sabê-lo.»

V. N.: «Tu yo y mi tú son diametralmente idénticos.»«Sólo la literatura inglesa se salva de lo literario.»«Escribir con otro lenguaje lo aprendí de la inglesa provecta de los Baños del Carmen. Por eso Rilke, y Rimbaud…Todo lo que hablara como yo en otra tesitura.»

F. P.: «Não meu, não meu é quanto escrevo,/ A quem o devo?/ De quem sou arauto nado?»

V. N.: «Sin ajeneidad no hay yo.» «Sólo en el olvido sé quién soy.»

F. P.: «Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!…»

V. N.: «Buscarse en la pérdida es hallarse en la búsqueda.»

F. P.: «Pouco importa de onde a brisa/ Traz o olor que nela vem.»

V. N.: «Me hubiera gustado, y sé que no lo he conseguido, ser un poema.» «Cuando digo yo no soy legítimamente yo mismo, sino el borroso deseo de serlo.»

F. P.: «Entre o luar e a folhagem,/ Entre o sossego e o arvoredo,/ Entre o ser noite e haver aragem/ Passa um segredo.»

V. N.: «Ciertas menudencias: ése es el secreto.»

F. P.: «Sinto que sou ninguém salvo uma sombra/ De um vulto que não vejo e que me assombra,/ E em nada existo como a treva fria.»

V. N.: «Nadie elige la oscuridad si no es por la luz que emana de ella.» «Si sois es porque ya dejasteis de serlo.»

F. P.: «…um cão verde corre atrás da minha saudade»

V. N.: «No hay que fiarse de las palabras, pero tampoco del silencio. Porque es un perro hambriento.» «El silencio soy yo.»

F. P.: «O teu silencio é uma nau com todas as velas pandas…/ Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso…/ E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas/ Com que me finjo mais alto e ao pé de cualquer paraíso…»

V. N.: «Parecida es la pureza del toro a la impureza del ángel.» «Fin de siglo. Fin del discurso. Fragmentos. Fragmentos.»

LAGOA HENRIQUES: «Recupero a imagem a ideia/ A forma degradada/ A ilusão perdida/ A história inacabada o espanto/ O sortilégio/ O banco de jardim/ O silêncio maior a morada/ A rua o bairro a porta/ A folha morta/ O tritão do claustro dos Jerónimos»

            «A mancha/ Acidental/ A estrela/ A riba/ Un friso de onze pombos// Ao vinho/ E a gordura/ Entrando no poema/ A pena de gaivota/ A gata preta/ O sonho/ O Teorema»

            «A Cesário Verde/ A Fernando Pessoa/ Ao meu avô Jacinto José Pedro/ A meus Pais/ A todos os meus Amigos/ A todos os meus Alunos/ Filhos do Sol e da Lua/ Procurar agarrar/ No correr do tempo/ Na “Passagem das horas”/ Uma mão cheia de imagens/ Surpreender o imprevisto e insólito/ O natural o simbólico/ No quotidiano visual/ Em tudo o rigor dar formas/ A metamorfose permanente/ Presente, ausente/ O privilégio, o sortilégio, da dádiva na dúvida.»

V. N.: ¡Ah, entrañables amigos de Lisboa aquí reunidos esta noche! Cualquier día, cuando tú, Mestre Lagoa, digas, quedamos con Carlos Amado en los Silos de Monturque.

FERNANDO PESSOA, LAGOA HENRIQUES, CARLOS AMADO Y VICENTE NÚÑEZ CONVERSAN EN LISBOA. Fotografía de Lauro Gandul Verdún (7 de julio de 1998)

AUTOPSICOGRAFÍA. Un poema de Fernando Pessoa (1888-1935) con dibujo de Xopi

 

«CARMINA» Nº 3

LA ESCRITURA O LA VIDA: PESSOA Y KAFKA «IN LOVE». Por Enrique Martín Ferrera (enero 2013)

KAFKA Y FELICE BAUER, 1917

 Franz Kafka con Felice Bauer

 (1917)

En el frío papiro de turbios editores
volqué yo aquellas ansias de una pasión sin límites
¿Era eso mi vida? Asco me dio de ella.
Con qué clarividencia sentí que estaba muerto.

Vicente Núñez
Ocaso en Poley (1982)

«Escribir es como la droga que me repugna y tomo, el vicio que desprecio y en el que vivo» —dejó escrito Pessoa a través de su desasosegado Bernardo Soares.

             Por su parte, Kafka se dirigía así a su amigo Max Brod en carta de Julio de 1922:
            «¿Por qué no cesan los remordimientos? La última palabra sigue siendo: podría vivir y no vivo. […] La escritura es una recompensa dulce y maravillosa, pero ¿de qué? Por la noche se me presentó con la claridad propia con que se enseña a los niños de la escuela que era la recompensa de servicios prestados al demonio.»

            ¿Habrían escrito las mismas páginas Pessoa y Kafka en otras circunstancias: feliz o infelizmente casados, con hijos, perro, vivienda en propiedad…, dedicando buena parte de su tiempo y esfuerzos a obtener el dinero preciso para mantener esa vida familiar, plegándose al gregarismo, alejándose de la soledad que ellos insistían en considerar su única amante posible? La correspondencia amorosa de Fernando PESSOA con Ophelia Queiroz y las cartas que dirigiera Franz KAFKA a Felice Bauer —testimonios que guardan entre sí una extraordinaria y estremecedora similitud— no dejan lugar para muchas dudas. El repliegue final de los escritores haría que ambas mujeres acabaran casándose con otros.

Fernando Pessoa en 1915Ophelia con 19 años, en el tiempo en que la conoció Pessoa.

Fernando Pessoa en 1915 y Ophelia Queiroz en 1919 con 19 años, cuando conoció al poeta

 

PESSOA IN LOVE

La joven se llamaba Ophelia Queiroz y pertenecía a una familia de la burguesía lisboeta. Tenía diecinueve años cuando Pessoa la conoció, como mecanógrafa en la oficina donde también trabajaba él mismo como traductor de correspondencia comercial. En ese lugar se le declaró abruptamente el enamorado poeta una tarde en la que se quedaron a solas, sin molestos testigos. En la correspondencia que mantuvieron, publicada a finales de los setenta en Lisboa por la editorial Ática, ella siempre le exigía un mayor grado de compromiso. La primera carta es de Marzo de 1920, seguida de muchas otras en meses sucesivos. Pero la relación fue interrumpida aquel año y retomada, inútilmente, nueve después. De ese último periodo hay una carta que Pessoa dirige a Ophelia el 29 de Septiembre de 1929 y que firma “su muy devoto Fernando”, donde leemos:

            «He alcanzado la edad en la que se tiene pleno control de las cualidades propias, y la inteligencia ha adquirido la fuerza y destreza que puede lograr. Así pues, es el momento de hacer mi obra literaria, completando un par de cosas, agrupando otras, escribiendo las que están por escribir. Para llevar a cabo este trabajo, necesito un poco de paz y aislamiento. No puedo, por desgracia, abandonar la oficina donde trabajo (no puedo, claro está, porque no tengo rentas), pero sí puedo, reservando para la oficina dos días de la semana (miércoles y sábados), tener como míos y para mí los cinco días restantes. Ahí tienes la famosa historia de Cascaes. Toda mi vida futura depende de que pueda o no hacer esto, y pronto. Por otro lado, mi vida gira en torno a mi obra literaria – buena o mala, que sea, o podría ser. Todo lo demás en la vida tiene un interés secundario para mí: hay cosas que, por supuesto, estimaría tener, y otras que da igual vengan o no vengan. Es necesario que todos los que me tratan se convenzan de que estoy bien así, y que requerir de mí sentimientos, de hecho muy dignos, propios de un hombre ordinario y trivial, es como exigirme tener los ojos azules y el pelo rubio. Y tratarme como si fuera otra persona no es la mejor manera de conservar mi afecto. Mejor tratar así a quien sea así, pero en este caso es “dirigirse a otra persona”, o algo parecido. Me gustas mucho -mucho- Ophelinha. Aprecio mucho -muchísimo- tu carácter y tus sentimientos. Si me caso, no me casaré más que contigo. La cuestión es saber si el matrimonio, el hogar (o como se le quiera llamar) son cosas compatibles con mi vida y pensamientos. Yo lo dudo. Por ahora, y en breve, quiero organizar esta vida mía de pensamiento y trabajo. Si no puedo organizarla, está claro que ni siquiera podría pensar en el matrimonio.»

KAFKA IN LOVE

Franz Kafka llegó incluso a estar prometido oficialmente con Felice Bauer, pero, conociendo al novio, cómo podrían llegar a buen puerto aquellos planes de boda. La relación se prolongó —con altibajos y con contados encuentros personales— durante cinco años, de 1912 a 1917; cinco años de lucha interior para el escritor: la escritura o la vida, terrible disyuntiva. La conoció en casa de Max Brod, donde ella estaba de paso, y, tras su marcha, comenzó pronto a escribirle una carta al día, y luego dos o tres diarias. «Nariz casi aplastada, pelo rubio, algo tieso y sin encanto, mandíbula fuerte», así la describe físicamente en su Diario, al anotar aquel primer encuentro de Agosto de 1912. En otra anotación distante en el tiempo, ya rota la promesa de matrimonio, llega a considerar a Felice como «una inocente condenada a un grave tormento». Y es en ese mismo Diario donde encontramos, en una entrada de 13-8-1913, el borrador de una carta dirigida al padre de Felice, que nunca llegó a su destinatario, con el autorretrato menos complaciente y atractivo que cabe imaginar para un futuro yerno, donde Kafka confiesa: «Mi empleo me resulta insoportable, porque contradice mi único anhelo y mi única profesión, que es la literatura. Puesto que no soy otra cosa que literatura, y no puedo ni quiero ser otra cosa, mi empleo no podrá nunca atraerme, pudiendo en cambio destrozarme totalmente. […] No sólo por mis circunstancias externas, sino mucho más por mi propia manera de ser; soy una persona reservada, silenciosa, insociable, insatisfecha; sin que pueda definirlo para mí como una desgracia, puesto que sólo se trata del reflejo de mis objetivos.»

            El 14 de Enero de 1913 escribe a Felice Bauer: «En cierta ocasión me escribiste que querías estar a mi lado mientras yo escribía; pero, imagínate, no sería capaz de escribir en tales condiciones. Escribir significa entregarse por completo […] Así que uno no puede estar lo suficientemente solo, no puede haber suficiente silencio en torno a uno cuando escribe, la noche es incluso demasiado poco noche. […] A menudo he pensado que la mejor vida para mí consistiría en recluirme con una lámpara y lo necesario para escribir en el recinto más profundo de un amplio sótano cerrado. Me traerían la comida desde fuera y la depositarían lejos, tras la puerta más externa del sótano. El ir a buscar esta comida, vestido sólo con una bata, a través de los pasillos del sótano, sería mi único paseo. Luego regresaría junto a mi mesa, comería lentamente, reflexionando, y de inmediato volvería a escribir. ¡Y qué cosas escribiría entonces! ¡De qué abismos las arrancaría!»  

            «Una lámpara y lo necesario para escribir…» Ya había hablado antes Kafka a Felice Bauer de esa lámpara, y de lo que podría suponer de exigencia y forzado cambio de costumbres el matrimonio, en carta dirigida el 24 de noviembre de 1912 a su aspirante a esposa. En ella —qué manera tan sutil de apartar a alguien de tu lado— Kafka incluye, copiado expresamente para ella, este poema de Jan Tsen-Tsai, el poeta chino del XVIII:

En la noche profunda
En la noche fría, absorto en mi libro
olvidé la hora de ir a la cama.
El perfume de mi colcha bordada en oro
se ha disipado y el fuego se ha apagado ya.
Mi hermosa amiga, que hasta entonces su ira
ha dominado con esfuerzo, me arrebata la lámpara
y me pregunta: ¿Sabes la hora que es?

            ¿La literatura o la vida?  Hay quien sostiene que es un absurdo apartarse de la vida para escribir sobre ella, y también son muchos quienes advierten que sólo escriben aquellos desdichados que están incapacitados para vivir. Pero, aun sin la certeza de lo sensato de esa opción, de ese sacrificio, ¿no puede verse acaso al hombre consagrado por completo al sacerdocio de la escritura como el titánico protagonista de una deliberada renuncia en favor de un fin más alto? La literatura o la vida… Para Pessoa y para Kafka —salvando tentaciones, zozobras y puntuales remordimientos— sólo cabía una respuesta ante semejante disyuntiva. ¡Qué ingenuidad la de soñar siquiera con poder arrebatarle su lámpara!

carta DE KAFKA A FELICE BAUER  Carta de Franz Kafka a Felice Bauer

PESSOA: EL ARCA DE LOS INÉDITOS. Por Enrique Martín Ferrera (octubre de 2012)

El arca de los inéditos de Pessoa

.

Dicen los que hicieron el inventario en 1968 que dentro del arca había 27.543 textos inéditos. En ese útero materno, rodeados por el terciopelo que cubría el interior de aquel baúl, permanecieron durante décadas aquellos papeles —mecanografiados unos y manuscritos en su mayoría, a veces con letra ininteligible—, a oscuras, en silencio… Tras la muerte en Lisboa de su autor, en 1935, la hermana de Pessoa se llevó el arca a su casa, junto a los escasos muebles, restantes enseres personales y los 1.200 libros de la biblioteca del poeta, que siempre vivió en humildes pisos y cuartos de alquiler, mudándose de uno a otro hasta en veinte ocasiones. Luego, ese baúl —vacío— fue subastado, acabando en manos de un particular a cambio de 60.000 euros. Los papeles que contenía, que, en parte, han ido publicándose poco a poco a lo largo de los últimos cincuenta años, corrieron una suerte parecida, con herederos predispuestos a buscar al mejor postor, pujas y negociaciones del gobierno portugués, mercaderes e intermediarios frotándose las manos, la codicia campando, la avidez de coleccionistas e inversores… En fin, la sucia realidad a la que estos legados y despojos del artista nos tienen habituados.

…………Realmente Fernando Pessoa publicó muy poco en vida, el libro Mensagem y un puñado de poemas, artículos y prosas sueltas en revistas, periódicos y publicaciones ocasionales. Casi todo iba a parar al baúl íntimo. En aquel maremágnum de cuadernos, carpetas y papeles, variopintos en contenido y desordenados en su disposición, que encerraba el arca, se hallaba incluida una página fechada en 1930. «No es que no publique porque no quiera: no publico porque no puedo» –escribía allí Pessoa. Luego añade: «Se da el hecho de que la mayor parte de las cosas que yo escribo no podrían ser aceptadas por la censura. Puedo no poder limitar el impulso de escribirlas; domino fácilmente, porque no lo tengo, el impulso de publicarlas, y no voy a importunar a los censores con un material cuya publicación tendrían forzosamente que prohibir.»

…………¡Cuánto amor por la escritura encerraba aquel arcón! Escribir para uno mismo, escribir para el baúl… Qué ejemplo para nuestros días, para tanto escritor apresurado, obsesionado con la celebridad… Precisamente, de la celebridad, decía Pessoa que era una plebeyez, una flaqueza, algo irreparable; y que todo hombre que merece ser célebre sabe que no vale la pena serlo.

…………«Ser poeta y escritor no constituye una profesión sino una vocación.» Por eso, profesionalmente, Pessoa no se definía así, sino como «corresponsal extranjero de casas comerciales», como señaló en una nota autobiográfica escrita el año de su muerte. Cumplido el horario y las labores del prosaico trabajo de anodino traductor de correspondencia comercial, consagraba todo el tiempo restante de su vida a la escritura. «Vivir no es necesario, lo necesario es crear», escribió en otra hoja, en una de esas que día tras día arrojaba al baúl.

.

Pessoa por Almada Negreiros
_____________________
PESSOA EN CARMINA

.

VICENTE NÚÑEZ (y amigos delante de la tumba de F. Pessoa en «Os Jeronimos»)

 

J.E.Espinosa, V. N., O.D.P., L.J. RGES

De izquierda a derecha,
J.E. Espinosa, Vicente Núñez,
Olga Duarte, Zsolt Tibor
y L.J. Rodrigues Gonçalves
(este último, organizador
del Encuentro de Poetas Andaluces
en Lisboa
de 7 de julio de 1.998).
Fernando Pessoa,
al fondo
Foto: LGV

  

 

«ÉGLOGA», DE JUAN ÁVAREZ: EL POEMA DE UN RÍO. Por Lauro Gandul Verdún (Alcalá, 30 de julio de 2020)

 
 
 

Buen atardecer tengamos mientras suenen los versos del río del poema que Juan Álvarez nos va a leer. Estamos con suerte porque vamos a gozar de la Literatura con mayúscula. Ésta, la Literatura, es un paraje infinito de espejos que se dejan cruzar, si el escritor es ser de conocimiento, memoria y voluntad. El otro lado también tiene espejos, y así sucesivamente.

   Un escritor cuenta lo que ha descubierto. Su vida es el experimento continuo, su biblioteca el laboratorio estático. Su inspiración un motor inmóvil que nos puede llevar por el universo sin salir de la habitación. No hay nada más científico que la Literatura, porque que sea infinita no implica ilimitada. Sintaxis, Semántica, Morfología…, ¿habrá algo más estrictamente científico que escribir ficciones? Y su autenticidad está asegurada cuando un escritor lo es de verdad.

   ¿Dónde están los pastores de esta égloga? No los hay ni en el río ni en la vida que se representa el autor «Tu camino y el mío,/ descalabrado río sin pastores,/ ¿no son acaso el mismo?» Trágicamente, la visión del poeta comprende que la ignorancia del mar lo condena a no conocerlo nunca («No conoces el mar. No lo conocerás»). En aparente contradicción con «las vidas que van a dar a la mar, que es el morir» de Jorge Manrique. Paradoja que se salva con la certeza de que el río tiene madre de sus aguas y en poesía el mar no tiene porqué coincidir con el mar.

   Si Garcilaso de la Vega cantó al Danubio desde una de sus islas y Dámaso Alonso a un río llamado Carlos, ¿junto a qué río se ha sentado Juan Álvarez para esta égloga fluvial?, ¿en qué tiempo fluye el río de Juan? Nos responde desde el primer verso «en un tiempo sin tiempo» llevando en su corriente aguas claras y profundas de Luis Cernuda, o «aquel olmo hendido por el rayo» de Antonio Machado, que siguen fluyendo cuando se leen en el poema que presento, gracias a que Juan Álvarez nos trae junto a sus versos, forjados y amorosos, los otros sembrados en los surcos de la Historia literaria, renovados e intangibles, a la par.

   Todos los versos de esta égloga nos llegan desde muy lejos, y están muy cerca, junto a esta orilla ribereña, sus bosques, sus huertas…, y sus ahogados, como escribe Juan Álvarez («unas pocas palabras desgastadas / con que contar la historia de todos tus ahogados»).

   El poeta ha descubierto un territorio, que se ha hecho nuevo por su acción, y ha dibujado un mapa… Pero ha llegado tarde, cuando todo el tiempo y los seres han sido, y ahora sólo se les puede recordar o inventar. Desde esa suerte de aparente nada un mundo crea el poeta y por él nos lleva en un cántico de amor y muerte, de contemplación y acontecimiento, de dolor y nostalgia. De esta última nos da una enseñanza, que la acerca a la saudade de Fernando Pessoa, cuando se refiere a lo que dejó de existir, por haberse perdido para siempre hace tanto tiempo, es causa de que el poeta dude de que hubiera existido nunca («de un tren que ya no existe, que tal vez no existió»).  

 
 
 

BELÉM. Por Lagoa Henriques (1923-2009)


 
 
 

________________
 
 
 
DIÁLOGO IMAGINÁRIO. «Memórias de um encontro no Chiado: Fernando Pessoa n’ “A Brasileira”, com Vicente Núñez, Lagoa Henriques e Carlos Amado». Por Luis Jorge Gonçalves, Lauro Gandul Verdún e Olga Mª Duarte Piña (Lisboa, 1998-2011)

FERNANDO PESSOA, LAGOA HENRIQUES, CARLOS AMADO Y VICENTE NÚÑEZ CONVERSAN EN LISBOA. Fotografía de Lauro Gandul Verdún (7 de julio de 1998)

A PESCA NA VILA DE OLHÃO. Lagoa Henriques (1923-2009)

OLHÃO, VILA CUBISTA. Lagoa Henriques (1923-2009)

RECUPERO A IMAGEN A IDEIA. Poema de Lagoa Henriques (2005)

A MANCHA ACIDENTAL. Lagoa Henriques (1923-2009). Dibujo de Rafael Aguilera, (2003)

LAGOA HENRIQUES. Un poema